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quarta-feira, 22 de julho de 2009

Arquitetura do debate

Quando eu tinha nove ou dez anos, gostava de desenhar as plantas de onde estava, como a da minha casa ou a de minha avó, de ler revistas de arquitetura e folhear livros de história da arquitetura. Como a família dizia que eu desenhava bem, ficou a idéia de que eu seria arquiteto no futuro. Não sou, para felicidade geral dos habitantes, mas o assunto me interessa tanto que às vezes chego a pensar que há certa frustração aí. Frustrante, porém, é a maneira como ele é tratado no Brasil. As revistas especializadas são poucas e muito técnicas, os jornais generalistas mal tocam no assunto, as pessoas cultas não parecem incluí-lo na pauta. Em grandes cidades como Nova York, Paris, Londres ou Berlim, cada prédio novo que chame a atenção - seja comercial, residencial ou público - é motivo para intermináveis debates sobre sua estética e pertinência.

Pode ver que temos arquitetos de projeção internacional, a começar por Oscar Niemeyer, mas não temos críticos de arquitetura de porte equivalente. A culpa não é do trabalho de pessoas como Lauro Cavalcanti, Hugo Segawa ou Fernando Serapião, mas da falta de interesse da sociedade em geral, da mídia e das editoras em particular. Não temos Kenneth Frampton, Giulio Carlo Argan, Lewis Mumford - não temos um pensamento sobre arquitetura e seu papel na vida urbana e no desenvolvimento humano. Apesar de picos de qualidade, a média de nossas construções em cidades como Rio e São Paulo é muito baixa(hahahaah-se SP é assim, imaginem Fortaleza...): são prédios mais de engenheiros do que de arquitetos, com aspecto feio ou comum. Ou então são os arranha-céus em estilo "neoclássico", kitsch demais em sua tentativa de ser chique, com nomes como "maison" ou "plaza".

Quando prédios dos medalhões da área despontam, é verdade que o debate surge nos jornais e é ouvido em conversas de bar. Mas a polêmica vem mais da aberração do que da reflexão. Nossos arquitetos famosos gostam de fazer obras que destoam completamente do entorno, do contexto urbano, e assim vemos paralelepípedos de vidro e alumínio com detalhes em roxo ou verde-limão serem erguidos em bairros como Higienópolis, em São Paulo, onde uma arquitetura de estilo anos 50 - com pilotis de pastilha e rampas entre jardins - é a predominante. Não há diálogo nenhum.

A boa notícia é que há uma resistência e ela vem encontrando um mercado que cresce a cada ano. Arquitetos como Isay Weinfeld, Marcelo Morettin, Alvaro Puntoni, Angelo Bucci e a turma do Triptyque, na capital paulista, têm feito casas, edifícios e lojas com uma linguagem sofisticada, contemporânea, preocupada com o espaço público e com uma estética heterodoxa. Estrangeiros como Alvaro Siza (Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre), Christian de Portzamparc (Cidade da Música no Rio) e Herzog & De Meuron (Teatro da Dança em São Paulo) têm, finalmente, aportado por aqui. Quem sabe assim, aos poucos, mais crianças que gostam de desenhar plantas continuem a fazê-lo quando adultas.

fonte: Revista Ocean Air

Texto de Daniel Piza, publicado em 01 de março de 2009 em www.danielpiza.com.br

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