O projeto vencedor do Concurso de Ideias para o Reordenamento da Beira-Mar só será conhecido na noite de hoje, mas algumas questões a respeito dos valores contidos no projeto, o que se espera do vencedor e os desafios que ainda deverão ser transpostos para sua execução já podem ser discutidas.
A arquiteta paulista especializada em paisagismo Rosa Kliass foi convidada pelo IAB-CE, junto com os arquitetos Matheus Gorovitz, de Brasília; Fábio Penteado, também de São Paulo e o cearense Roberto Castelo.
A presidente da Comissão Julgadora do concurso, Rosa Kliass, encabeçando uma função de extrema responsabilidade, avaliou que o projeto de reordenamento da Beira-Mar é um empreendimento essencialmente paisagístico. Isso porque os valores do paisagismo estão presentes em todo o projeto.
Contudo, a arquiteta ressaltou que o reordenamento tem algumas particularidades, uma delas é que a solução para a Beira-Mar deve contemplar tanto os padrões adequados para a condição de orla, de praia da área em que será realizado, como as de centro urbano, afinal, é um espaço que abriga habitação, comércio, lazer, transporte, enfim, atividades comuns às grandes metrópoles litorâneas.
“Este é um projeto que está na vanguarda do que está acontecendo no mundo inteiro e no cenário no local. O grande valor paisagístico da orla irá contribuir certamente do ponto de vista econômico e da imagem da cidade. E acima de tudo, o concurso valoriza o profissional. É um regozijo ver um órgão público requisitar os arquitetos para essa iniciativa”, observou Rosa Kliass.
Ações de reordenamento ou requalificação de áreas centrais das cidades contemporâneas não é uma novidade, mas continua sendo uma tendência em muitos países. Conforme Kliass, essa temática tem valor internacional e está sendo abordada em todas as cidades do mundo e, com muitos exemplos, como as áreas das docas de Londres, da battery city park de Nova York e mais perto o aterro do Flamengo, um projeto de sucesso que foi um dos primeiros no mundo a serem realizados, ainda na década de 1960.
Aliado a essa preocupação de reorganizar os espaços urbanos e proporcionar melhor qualidade de vida para as populações dos grandes centros, o paisagismo vem ganhando espaço, seja em âmbito internacional ou no cenário brasileiro. Autora de projetos paisagísticos expressivos para grandes capitais brasileiras, Rosa Kliass destaca que o paisagismo no Brasil hoje adquiriu um status de extrema relevância na atualidade.
Segundo a presidente da comissão do júri do concurso nacional de ideias para a Beira-Mar, está havendo uma conscientização da necessidade da participação do arquiteto paisagista em todas as áreas, seja em parques, empresas e mesmo na composição de projetos arquitetônicos de diversos tipos, o que valoriza não só a atuação de profissionais especializados nessa área, mas promove a coerência e uniformidade entre as características arquitetônicas e paisagísticas de qualquer obra.
Se para a arquiteta de São Paulo, o paisagismo é o diferencial do projeto que irá dar uma nova composição para a Av. Beira-Mar. Já para o professor titular aposentado do Departamento de Teoria e História da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, Matheus Gorovitz, o grande desafio que os arquitetos tiveram e ainda terão que enfrentar na concepção do projeto é manter a coerência.
“Fora a complexidade da cidade, há muitos aspectos a serem considerados e a dificuldade, o desafio foi reunir todos esses aspectos para dar uma coerência ao projeto. Outro aspecto muito sensível são as contradições que já se sedimentaram na cidade e que dão a ela uma identidade e, portanto, não podem ser desconsideradas pelos autores dos projetos”, observou.
O professor considerou que este foi o concurso de maior responsabilidade de que já participou. Isso porque os impactos deixados pelas obras na cidade serão muito grandes, assim como os benefícios que elas trarão. “Trabalhei em projetos que mudaram pontos da cidade e não uma extensão tão grande assim”. De acordo com Gorovitz, o projeto tem uma amplitude que envolve desde questões de desenho urbano, paisagismo, identificação da sinalização, etc, indo de uma escala micro a macro, o que torna difícil para os arquitetos ter domínio completo sobre todas essas particularidades.
“Aquele que mais se aproximou de uma possibilidade de atender todos os itens do edital foi o contemplado, mas vai ter um longo percurso ainda para ser complementado até com profissionais de outras áreas”. O professor foi taxativo em afirmar que os projetos apresentados não podiam ser considerados como definitivos, dada a complexidade da proposta. Rosa Kliass complementa afirmando que houve uma diversidade muito grande de enfoques e soluções, mas o júri foi unânime na definição dos conceitos básicos que deveriam ser avaliados e, a partir deles, não foi difícil estabelecer critérios de escolha e chegar a uma decisão.
O terceiro integrante do júri, também vindo do estado de São Paulo, o arquiteto Fábio Penteado, destacou o papel significativo do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Ceará (IAB-CE) como instituição organizadora do concurso. “A responsabilidade pelos bons critérios de julgamento e soluções cabe ao IAB, que tem tido uma tradição no cenário nacional nesse assunto. É a única entidade que tem reconhecimento unânime em todo o país para realizar ações desse porte”.
Penteado é um defensor da realização de concursos para a contratação de projetos arquitetônicos, ele considera essa forma de seleção a mais democrática na atualidade e essa cultura de concursos, segundo ele, já faz parte do perfil profissional dos arquitetos e urbanistas. “Os arquitetos têm um comportamento muito adequado, muito correto em relação aos concursos, o que os destaca de outros profissionais. Eles adotam atitudes corretas, o que ajuda muito a uma boa conclusão na hora de avaliar”.
Ele destaca que independente dos critérios definidos nos termos de compromisso ou editais dos concursos, o que um júri busca ao avaliar as propostas é a coerência do projeto, contudo, afirma que é difícil encontrar ideias coerentes do início ao fim de um trabalho. “O que se deseja num projeto é coerência, mas não é o que acontece. Muitas vezes, os projetos se tornam exposição de papel pintado que levam a nada”, critica.
Apesar dessas dificuldades, Fábio Penteado reconhece que os projetos vencedores sempre são aqueles que se aproximam mais dessa coerência formal e de ideias. Portanto, o que o arquiteto ressalta em relação ao Reordenamento da Av. Beira-Mar é a importância da execução das obras, afinal, o Brasil, já está muito habituado a ver iniciativas brilhantes no discurso, mas que não chegam à prática. “Desejo que uma boa parte dessa obra seja implantada. Sei que não é fácil, mas os meus votos é de que tudo é possível”, finalizou.
Olhem que surpresa! Num é que os rumores se confirmaram. Que concurso que nada, mais uma vez vivencimos um jogo de cartas marcadas... Isso precisa ser investigado! Ou sera que a Beira-Mar foi transformada em uma "MARAMBAI"?
ResponderExcluirParabens à Fortaleza bela
Pura afirmação irresponsável de um comentarista anonimo. O corpo principal do juri era renomado de grandes profissionais de renome nacional e rputação ilibada. O proposta é realmente a melhor e se contrapõe inclusive a indicativos do programa do Edital.
ResponderExcluirPor outro lado é só dar uma olhada no grupo do arquitetos autores da proposta - Ricardo Muratori/ Fausto Nilo/ Esdras dos Santos e na equipe que os auxiliou que se verá referencia, seriedade e conteúdo no que se propos. Parabéns a equipe.
Quem está endossando estes "rumores" é claramente um grupo dentre os concorrentes que não foi escolhido como vencedor do certame. Desafio o anonimo a postar com seu próprio nome.
O concurso de arquitetura/ urbanismo é a melhor solução para a busca de qualidade de propostas. Isto já uma tradição que remonta nossa profissão há mais de 70 anos. Os comentários de anonimos são em geral não levados a sério, em nenhuma hipótese.
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