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terça-feira, 2 de março de 2010

Na contramão de São Paulo, projeto nos EUA reverte rios à condição natural


Enquanto o governo de São Paulo amplia as pistas da Marginal do Tietê, nos Estados Unidos um projeto vai na direção contrária: tenta reverter rios do país ao estado original. O objetivo, segundo os organizadores, não é apenas a preservação ambiental, mas também o bem estar da população. Rios preservados são fontes de água limpa e causam menos enchentes.

O projeto “Rios Sustentáveis” é uma iniciativa da organização The Nature Conservancy em parceria com o Corpo de Engenheiros dos Estados Unidos – órgão responsável pela gestão da maior parte dos recursos hídricos do país.

A proposta está sendo aplicada como teste em oito rios. O primeiro foi o Green River, no estado do Kentucky, que se estende por mais de 600 km, ligado a uma rede de cavernas e que abriga mais de 150 espécies diferentes de peixes. A criação de uma represa alterou o curso do rio, a temperatura da água e atrapalhou a reprodução dos peixes. Com o projeto, está sendo feita uma revisão de como a água deverá ser liberada da represa, para deixá-la mais próxima das condições naturais da área.


O Green River é muito diferente do Rio Tietê/ SP. E, embora entre os rios do projeto existam alguns que passam por áreas urbanas, nenhum atravessa nada parecido com São Paulo, uma das maiores cidades do mundo. Mas, para Andy Warner, coordenador do projeto, a proposta é apenas o primeiro passo. “Temos oito rios para teste, para mostrar que isso é possível. Mas nossa ambição é grande. Queremos levar isso para todos os rios dos Estados Unidos, mesmo nos grandes centros”, afirma Warner.

Para ele, a tendência mundial é essa: reduzir a urbanização e reverter os rios à sua condição natural. Mas isso seria possível em uma cidade com mais de 11 milhões de habitantes? Para Warner, sim. “Na minha experiência, essa história de que há um conflito entre o social e o ambiental, entre o desenvolvimento e a preservação, é besteira. É perfeitamente possível – e desejável -- que os dois convivam pacificamente. É preciso pensar de maneira criativa”.


Mestre em ciência hídrica e formado em gestão de recursos hídricos, Warner explica que “rios precisam de espaço”. “As cidades precisam se desenvolver, mas não podem prensar seus rios. É preciso levar em conta o período das cheias e não invadir os locais que alagam em algumas épocas do ano quando eles estão secos”, afirma.

Para o engenheiro ambiental Antônio Carlos de Oliveira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o projeto americano é “uma alternativa saudável para minimizar os impactos causados pelo homem e a urbanização”. “É uma ação contrária ao que se está realizando na Marginal Tietê”, afirma.


Mas ele não acredita que algo parecido seja possível na cidade, ou mesmo em outros pontos do Brasil. “Não creio nessa possibilidade por várias razões, mas a principal é a crônica falta de planejamento urbano e as suas distorções”, disse.

“Atualmente a população urbana brasileira é cerca de 90%, segundo dados do Ministério das Cidades. Esse grau de urbanização se deu de forma não controlada e contribuiu muito significativamente para a ocupação de áreas de risco, em morros e principalmente ao longo de córregos e riachos, pela população de menor poder aquisitivo. Ao longo dos anos, o poder público fez vista grossa a essa situação, de tal forma que o crescimento desordenado dessa ocupação em muito contribui para o aumento dos problemas atuais”, afirma o engenheiro. “Uma ação de retomada dessas áreas pode significar um elevado custo social que poucos administradores poderão ou ousarão pagar”, avalia.


Fonte: Portal G1/ Edição São Paulo/ Rios
Comentário da postagem: A agenda de debates sobre as possíveis soluções ao Rio Tiete, em contraponto à proposta do Governo do Estado de São Paulo, foi organizada e desenvolve-se sob a coordenação do IAB/ SP em conjunto com outras entidades e associações da sociedade civil.

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