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sábado, 29 de maio de 2010

As bicicletas do Titanzinho Regina Ribeiro

Confesso: não gosto do discurso em torno da implantação do estaleiro no bairro do Titanzinho. Estou convencida de que muitos aspectos desse investimento, tratados no artigo do arquiteto Fausto Nilo, publicado há uns dois ou três meses no O POVO, sequer são levados em consideração pelos defensores do projeto naquela região da cidade. Fausto Nilo alertou para a degradação ambiental e, principalmente, para a insustentabilidade de uma construção desse porte conviver junto a uma comunidade. Mas quem liga para isso, se o Titanzinho é um lugar esquecido, ocupado por uma população de baixa renda onde a promessa de um emprego soa como a ordem de entrar no paraíso?

Aqui é justamente quando eu desgosto do discurso. Oferecer emprego é uma visão passadista na forma de se pensar, economicamente, uma sociedade. Qualidade de vida, possibilidade de ascensão social, bons níveis de saúde e de educação têm um forte impacto nas avaliações contemporâneas, nas quais até a felicidade entra em campo. E, eu me recordo como se fosse hoje de muitos empreendimentos, aqui mesmo no Ceará, cujo discurso de empregabilidade foi para o espaço quando o projeto chegou.

Não deu ainda para esquecer as fábricas coreanas de máquinas de costura do Acarape, nem as inúmeras cooperativas do setor têxtil e de calçados que se espalharam feito gripe pelo interior, debaixo de um discurso de "novos postos de emprego" e de "novas relações de trabalho". O espaço aqui é curto, mas dá para dizer que nada disso existe hoje e que foi um inferno para centenas de pessoas enquanto durou.

Entrevistei, nessa época, um secretário que me dizia que a venda de bicicletas estourava nos municípios aonde chegavam as cooperativas, o que indicava a ascensão econômica "formidável" dos seus moradores. Então perguntei: "O senhor não considera muito pouco que a ascensão social e econômica de uma pessoa seja medida pela compra de uma bicicleta?". Ele respondeu com a melhor boa vontade do mundo: "E o que você queria mais?"

Fonte: Jornalista Regina Ribeiro/ Editora Edições Demócrito Rocha reginah_ribeiro@yahoo.com.br

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