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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

IAB-DN, sob nova direção


Presidente do IAB-DN eleito em 2010, Gilson Paranhos fala sobre as próximas atuações da entidade, a prioridade para os concursos e a situação da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.



Se depender do entusiasmo e das boas intenções do novo presidente eleito do IAB-DN, o arquiteto Gilson Paranhos, a entidade será participativa e atuante em todas as questões relacionadas à arqui tetura. No cargo desde 1o de junho, o profissional pretende impulsionar várias questões adormecidas, como a realização de concursos públicos e a consolidação da assistência técnica gratuita. Com 54 anos, Paranhos, que nasceu em Pedregulho, SP, formou-se em 1980 na Universidade de Brasília, e já no primeiro ano de faculdade era sócio-aspirante do IAB-DF. Teve participação bastante intensa nas atividades do instituto: foi presidente da unidade de Brasília, membro do Conselho Superior do IAB nacional, secretário geral em duas gestões até assu mir agora a presidência. Ao se diplomar, montou o escritório que mantém ativo até hoje em Brasília, servindo de base para trabalhos que desenvolveu ao lado de dois grandes mestres: o arquiteto Milton Ramos, falecido há dois anos, que projetou o aeroporto de Confins e desenvolveu os edifícios de Niemeyer para Brasília, e João Filgueiras Lima, o Lelé, chegando a se transferir para Salvador, onde desenvolveu o projeto da fábrica de argamassa armada. De volta à capital federal, Gilson Paranhos mergulhou de cabeça nas causas referentes aos arquitetos. Em sua gestão à frente do IAB pretende, antes de tudo, reforçar a imagem da entidade. "Precisamos conquistar os jovens, trazê-los para que o IAB os represente em muitos momentos importantes de sua vida profissional."

Como você encontrou o IAB?

O IAB sempre foi e sempre será a entidade mais forte dos arquitetos. O IAB é muito respeitado por sua história, como na participação nas discussões durante a ditadura militar, como o fizeram a OAB, a CNBB, a ABI.

Mas o modo de administrar a entidade mudou?

Hoje, a linguagem da moçada é outra e a maneira da entidade trabalhar tem, portanto, que mudar. Antigamente você reunia as pessoas para discutir; hoje as discussões acontecem pela internet e as decisões são, portanto, mais rápidas. Então, é necessário pensar em outro tipo de comunicação e nos adaptarmos à realidade. Os tempos são outros. Precisamos nos organizar nos 27 Estados para que tenhamos uma sociedade forte.

O IAB é uma associação representativa dos arquitetos?

Apesar de o IAB ser uma entidade associativa, nós não trabalhamos apenas para essa parcela dos profissionais. Temos aqui em Brasília em torno de quatro mil arquitetos e apenas metade deles é associada ao IAB e em torno de 500 arquitetos têm suas mensalidades em dia. Teoricamente deveríamos então trabalhar com esses 500 arquitetos. Mas não, nós trabalhamos para os quatro mil. Não estamos preocupados em saber se aquele determinado arquiteto é associado ou não; isso é muito positivo. Talvez essa seja a razão de o IAB ter notoriedade com relação à sociedade. Mas, por outro lado, é uma entidade que não tem dinheiro para nada. Então é obviamente necessário sanear nossas finanças.

Quais são as prioridades de sua gestão?

Nossas prioridades são a consolidação do CAU e a luta pela contratação de projetos. Essa luta é pela qualidade da arquitetura, que só se obtém com a contratação correta de projetos. Hoje a contratação de projetos é regida pela lei 8666, feita pelo menor preço ou por pregão. Isso é um absurdo, porque a qualidade é a última coisa em que se pensa. E o projeto de menor preço é o pior projeto, não há dúvida.

Qual a alternativa defendida pelo IAB?

Defendemos a contratação de projetos por concurso público. Da mesma maneira como qualquer serviço que você vai prestar para o governo, você faz concurso - médico, advogado. Todos fazem concurso; o arquiteto, não. O governante ou o homem público chama o sobrinho ou o primo e faz o projeto, logicamente já comprometido com a construtora ou com o governante. Além disso, a lei 8666 permite que se inicie uma obra pública sem ter o projeto executivo. Então lutamos pela mudança da palavra "projeto básico" para "projeto executivo", pois quando se tem o projeto executivo é possível saber o preço de uma obra.

Poderia citar um exemplo?

O estádio do Corinthians, anunciado recentemente. Como pode um projeto aparecer do nada em três dias? Impossível. Faz-se um projeto em 3D, joga-se na tela e se diz que é projeto. O meu filho faz um 3D desses em um dia. Então, se não existe o projeto, não se sabe o custo. Logicamente, o custo das obras fica absurdamente acima do que deveria ser. Porque o objetivo da maioria das construtoras é lucro, puramente o lucro.

Você citou o CAU como outra das prioridades de sua gestão. Como será esta luta?

A consolidação do CAU é uma luta antiga; há mais de 50 anos os arquitetos querem seu conselho próprio. O nosso projeto de lei é o melhor do Brasil. Arquiteto não entende muito desse assunto, mas advogados do próprio Palácio do Planalto dizem que o nosso é muito bem elaborado. O CAU e o IAB não têm nada a ver um com o outro. O CAU é uma autarquia pública, enquanto o IAB é um instituto que pretendemos cada vez mais forte. O CAU é muito importante porque a sociedade brasileira hoje não tem um órgão para tratar das questões da arquitetura.

A criação do CAU interessa só aos arquitetos?

Não, interessa ao cidadão comum. Qualquer pessoa com um projeto que não atenda às suas necessidades, não sabe em que órgão reclamar da situação. Ele vai achar que deve ir ao Crea, mas o Crea abrange mais de 300 profissões. Não há um órgão próprio, que trate especificamente das questões de arquitetura, e, portanto, capaz de atender as necessidades da sociedade.

Mas as funções do CAU e do IAB podem se confundir?

O IAB vai fazer 90 anos e não se confunde ou perde a atuação em função da existência do CAU. Ele vai ter mais força porque teremos um conselho onde os caminhos serão definidos. Por exemplo, a questão da fiscalização, que vai começar a acontecer. Hoje, 80% do que é construído está na ilegalidade.

E quanto aos concursos?

O IAB deve fazer concursos, mas não só ele. Na França, todos os projetos são feitos com concurso público. É claro que há vários tipos de concurso. Antes o IAB fazia um único tipo de concurso, exigia uma presença enorme dos arquitetos e a participação do cliente era muito pequena. Então muitas vezes demos como resposta a um cliente um projeto que não era bem o que ele queria. Além disso, o concurso demorava e era caro. As nossas normas eram muito rígidas.

Qual é hoje a situação dos concursos?

Temos capacidade de realizar mais de dois mil concursos por ano. E, no entanto, quase não fazemos concursos, porque a cultura do concurso não está disseminada. Nem entre os próprios arquitetos. Nós temos que ter uma quantidade enorme de concursos, para que o arquiteto possa escolher. Agora, o mais importante não é garantir que o arquiteto tenha trabalho. É assegurar à sociedade obras de qualidade arquitetônica.

Como os projetos são contratados?

São contratados por pregão, coisa que o Judiciário tinha que impedir. Você sabe o que é contratar um projeto por telefone? Você não está comprando batata; aliás a batata você pode olhar e examinar, antes de comprar. O projeto não, você não vê. Quando você faz um pregão ou uma licitação por preço, a sociedade está dando um cheque em branco para uma construtora. É o que está acontecendo com a Copa de 2014.

A ausência de concursos, especialmente para obras relevantes, prejudica a sociedade?

Prejudica, sim, e muito. Se não houver uma ação do Governo Federal e da sociedade pressionando para que os concursos aconteçam, teremos problemas seriíssimos. Um exemplo é a Copa de 2014. O Comitê Olímpico da Copa na África do Sul tinha 80 membros; no Brasil são apenas seis, sendo quatro da mesma família.

Falando em Copa, um estádio como o de Manaus poderá virar um elefante branco?

Quando você faz um concurso público de projeto essas questões vêm à tona. Para que esse estádio, o que vai acontecer com ele depois da Copa? Qual a participação, por exemplo, do Ministério da Cultura nessas edificações? Se o Minc não participa, o que vai acontecer com essas edificações posteriormente? Não faz sentido um arquiteto fazer uma obra que atenda simplesmente a um evento.

Quais os planos do IAB em relação à lei 11.888?

Vamos trabalhar fortemente na implementação da lei 11.888, de assistência técnica à moradia de baixa renda. Já foi sancionada pelo presidente Lula e está em vigor. Diz que toda família com rendimento de até três salários mínimos tem direito à assistência técnica de um arquiteto ou engenheiro. É o SUS da arquitetura. A sociedade precisa saber que já tem essa assistência paga pelo Governo Federal.

Essa lei está sendo aplicada?

A lei foi aprovada em 2009 e precisa começar a ser aplicada. Isso é importante porque nós acreditamos que, com um acompanhamento feito pelo arquiteto, interferimos na saúde, na educação, na evolução como um todo do cidadão. Mas é necessário haver uma pressão da sociedade para que isso comece a funcionar. Mais da metade dos municípios brasileiros - são 5.400 no total - não tem nenhum arquiteto ou engenheiro contratado.

Essa lei pode ser prejudicada pela falta de cultura arquitetônica da sociedade?

Sim, claro. Na hora em que a lei começar a ser implementada, vai acontecer a mesma coisa que ocorreu com o SUS - quando as pessoas perceberam que era possível serem atendidas por um especialista, como cardiologista, não admitiram ser atendidas por um médico de outra especialidade. Elas querem o médico correto. Isso vai acontecer na arquitetura - mais tarde, as pessoas vão procurar um arquiteto-paisagista e não vão querer um engenheiro.

Como você está vendo a decisão da Fundação Bienal que não cedeu espaço para a realização da Bienal Internacional de Arquitetura em 2011?

É uma falta de visão do todo. Temos que entender que a BIA é a maior mostra internacional de arquitetura do mundo e, como bienal, precisa ser realizada a cada dois anos. Como presidente do IAB-DN estou tentando marcar uma reunião com o presidente da Fundação para conversar e tentar chegar a bom termo, pois considero importante a parceria da Fundação. Agora, não posso tapar o sol com a peneira e negar que havia uma crise entre a Fundação e o IAB-SP na BIA de 2009, e talvez isso tenha refletido na péssima qualidade da Bienal apresentada. Mas se a Fundação Bienal, o IAB-SP e a mídia me ajudarem, acredito que a Bienal será um sucesso. Se, em último caso, não houver nenhum acordo, poderemos realizar a BIA em outro espaço ou até pensar em não realizá-la no próximo ano, mas não é o ideal.

Fonte: Revista AU Arquitetura e Urbanismo

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