Dois eventos significativos contribuíram, no decurso da semana, para a consolidação do Geopark Araripe. O primeiro: a visita da comissão de especialistas da Unesco para avaliar esse projeto pioneiro no Hemisfério Sul, dotado de nove geossítios; o segundo: a 1ª Conferência Latino-Americana e Caribenha de Geoparks, reunindo delegações de países como França, Malásia, Espanha, Noruega, Irlanda, Portugal, Uruguai e Brasil, convidados do Ministério da Integração Nacional, do Serviço Geológico da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), professores e pesquisadores brasileiros.
Um Geopark, no conceito científico, corresponde a uma área com expressão territorial e limites bem definidos, contendo número significativo de sítios de interesse geológico, histórico, cultural e rico em biodiversidade. O Geopark Araripe está contemplado com área de 3.520,52 km², correspondendo ao território de seis municípios do sul do Ceará: Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.
A partir da Universidade Regional do Cariri, onde o projeto está albergado, os especialistas da Unesco conheceram de perto a riqueza paleontológica da região. Ela está distribuída por nove geossítios, dotados de áreas fossilíferas e suas peculiaridades, como o Parque dos Dinossauros e Museu de Paleontologia de Santana do Cariri e a Floresta Petrificada de Missão Velha, cuja documentação geológica confirma a separação da costa brasileira do continente africano.
A delegação da Unesco avaliou como positiva a visita, da qual sairá, em março vindouro, o relatório conclusivo. Dele vai depender a emissão do selo verde para o empreendimento. Os especialistas comprovaram, na avaliação, a existência das condições básicas para o seu reconhecimento, como a interação dos sítios geológicos com os moradores de seu entorno, o saber local, o legado histórico, cultural e social, além dos geoprodutos. Esses pré-requisitos serão essenciais para o reconhecimento internacional do Geopark Araripe.
A Conferência Latino-Americana e Caribenha de Geoparks concentrou no Cariri delegações de 20 países, especialmente da Europa, América-Latina e Caribe, para uma troca de experiências sobre geoconservação, geoturismo e geoeducação. Há, espalhados pelo mundo, 77 geoparks, sendo explorados a partir desses três pilares. A conferência realizada em Barbalha interessou de perto aos prestadores de serviços, especialmente, às prefeituras, empresas de turismo, redes de hotéis, restaurantes e serviços receptivos.
O Geopark Araripe, pioneiro nas Américas, servirá de modelo para outros empreendimentos científicos e culturais do gênero. Sua experiência já vem interessando aos Estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, engajados em iniciativas para a estruturação de parques semelhantes. A divulgação desses recursos naturais trará outros ganhos, como a possibilidade de mudanças da mentalidade até então destruidora de um patrimônio dotado de milhões de anos, porém relegado ao esquecimento pela desinformação sobre sua relevância e ao desmantelamento pela ação de novos bárbaros.
Fonte: Editorial/ Diário do Nordeste. Fotografia de uma extração industrial de calcário. Por Daniel Roman. Direitos autorais preservados. Arquivo de Imagens Ibi Tupi.
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