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sábado, 13 de novembro de 2010

Uma cidade contra o mar


Um observador da paisagem litorânea que conheça os dados científicos divulgados pelo Painel Intergovenamental de Mudanças Climáticas (IPCC) sobre o aumento do nível dos oceanos tem uma natural preocupação. A inquietação é maior para o morador da região metropolitana do Recife. A faixa de praia cada vez menor e as informações dos cientistas que analisaram informações sobre o clima são somadas a uma rotina de obras de contenção do mar feitas ao longo das praias de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista.

No Recife, um novo trecho de 400 metros está recebendo pedras com peso superior a 1,2 tonelada, sacos de areia e elemento filtrante para proteger a mureta e calçadão da Avenida Boa Viagem – um dos principais cartões postais da capital de Pernambuco. Com a nova extensão, a praia mais conhecida do Recife ficará com uma linha de 2.600 metros de enrocamento (nome dado à proteção feita com pedras de diversos tamanhos que têm como missão retirar a energia das ondas e proteger a área urbanizada).

Ao sul, em Jaboatão dos Guararapes, o secretário de Meio Ambiente, Márcio Mendes, está revisando os últimos detalhes do edital que vai licitar a preparação de um projeto executivo para devolver à população ao menos 5 quilômetros de praia. A cidade tem ao todo 8 quilômetros de faixa litorânea, mas, ao longo das últimas décadas, viu sua opção de lazer mais democrática ser erodida. A paisagem foi modificada. O prejuízo se espraiou.

Praia é conhecida como espaço recreativo, mas não é apenas isso. Em todo litoral de grandes cidades nordestinas é grande o número de comerciantes informais que vivem do que vendem na praia. Do picolé à cerveja, do protetor solar à ostra. Praia atrai turistas, que atraem hotéis. Jaboatão dos Guararapes viu nos últimos anos ao menos dois hotéis de alto padrão fecharem suas portas envidraçadas. Se não há praia, o mercado imobiliário não especula, os preços dos imóveis não são valorizados e a prefeitura arrecada menos com o IPTU. Os donos de imóveis para alugar também ganham menos.

A ideia do secretário Márcio Mendes é publicar, nos primeiros dias de novembro, edital para licitar um projeto de R$ 1 milhão para execução de uma obra para dar a praia de volta aos banhistas. “Vamos engordar a praia com o uso de 700 mil metros cúbicos de areia a ser retirada do fundo do mar”, informa Mendes. Ele diz que o plano é dragar grãos semelhantes aos da praia e criar uma faixa de 30 a 60 metros de areia. As pedras que fazem o enrocamento de contenção serão enterradas.

A solução em processo de licitação de projeto em Jaboatão dos Guararapes vai transformar o município em exportador de areia. Estudos do departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e vários trabalhos já apontaram que as correntezas costeiras movimentam os sedimentos do sul para o norte.

Ao norte de Jaboatão está o Recife, que enfrenta o mesmo problema e não tem a mesma programação para a solução. O Recife e de certa forma as outras cidades que enfrentam a erosão ao norte (Olinda e Paulista) aguardam um estudo metropolitano, que é coordenado pela Secretaria de Ciência e Meio Ambiente (Sectma), do governo do estado. A secretaria espera a coleta de dados mais completos do departamento de Oceanografia da UFPE.

A professora Tereza Araújo, especialista em geologia e geofísica marinha, lidera o grupo de monitoramento ambiental integrado que estuda a erosão costeira dos quatro municípios desde a década de 90. Os pesquisadores municiam estado e prefeituras com informações técnicas, estudos comparativos e análises que dão uma visão ampla do problema.

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