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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Coluna Romeu Duarte: Caixa de magia

A Robledo Valente e Duarte Dias 

De repente, mandaram a gente dar um tempo no racha na quadra. O treinador (pense num cabra gente fina) chegou, tomou a bola e disse: “Galera, o futebol fica para amanhã. A direção da escola vai fazer uma surpresa para os alunos. Peguem suas coisas, se arrumem, que o ônibus já está lá fora esperando vocês”. Fiquei chateado porque interromperam a partida justamente quando eu ia fazer um gol de placa, estilo Neymar. Todo mundo fedendo a cassaco, mochilas nas costas, subimos no cambão dando gaitada e tapas na cabeça dos que iam na frente. “Desconta lá”, a gente dizia, e o menino dava um teco no quengo do outro, e assim por diante, anarquia geral. Quando eu dei fé, notei que aquela gata da B estava do meu lado. “Macho, molecagem tem hora, viu?”.

A professora de português (pense numa mulher braba), do lado do motorista, voz de taquara rachada, anunciou o nosso destino: “Hoje nós vamos conhecer algo que muitos de vocês talvez não conheçam. Um espaço aonde talvez a maioria não tenha sequer ido. Pessoal, nós vamos ao cinema! Mas não a um cinema qualquer...Nós vamos visitar o Cine São Luiz!”. Muito prazer. Filme eu sempre vi na TV e no computador. Nunca estive num cinema antes, nem sei como é, por onde se entra e por onde se sai. “Minha irmã mais velha já foi. Ela voltou para casa com os olhos brilhando. Passou a semana inteira falando disso”, disse a gata da B (pense numa tchutchuca), sorrindo de leve para mim. A cidade passando veloz pela janela do busão, a algazarra da negrada, alegria.

Filme eu sempre vi na TV e no computador. Nunca estive num cinema antes, nem sei como é, por onde se entra e por onde se sai

O ônibus estacionou numa praça do Centro, aquela que tem uma coluna de ferro no meio com um relógio em cima. Saímos em fila, dois a dois, era eu o par da gata da B. Levamos uma vaia grande do povo que estava lá. “Pensa que só tem fuleiragem lá no Bom Jardim, é, doido?”, frescou o Kleyner, goleiro do nosso time. Fomos levados para um prédio antigo. Quando entramos no salão, ficamos de queixo caído. “Isso é um palácio!”, falei, vendo os lustres e o granito nas paredes e nas escadas. À medida que a gente entrava, a escuridão tomava de conta. Então, bufo!, as luzes se acenderam e nós enxergamos a sala de projeção (pense num negócio lindo). Ficamos mudos um tempão. Aí começamos a bater palmas. A gata da B, mão na minha mão, sorria e chorava.

Sentados nas poltronas vermelhas, assistimos, eu e a gata da B, bem juntinhos, a não sei quantos filmes, todos curtinhos, mas muito engraçados. Tinha uns bem velhos, com um vagabundo zambeta, de bigodinho, chapéu redondo e bengala e uma dupla de otários, um gordo e o outro magro, que por pouco não nos mataram de rir. Teve também uns brasileiros, com dois caras que eram daqui, o primeiro, um tal de Didi que só falava “psit”, e o segundo, que fazia vários personagens, dentre eles um idoso mentiroso que só. Quase fizemos xixi nas calças de tanto achar graça. Na saída, a gata me contou um segredo: “Essa experiência ampliou e enriqueceu a minha vida. Estive num lugar mágico, de sonho. Quero vir aqui mais vezes. E com você, meu gatinho”.

Coluna do Arquiteto e Urbanista Romeu Duarte no Jornal O Povo originalmente publicada no dia 05/10/2015

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