O arquiteto Carlos Magalhães da Silveira, 76, ex-genro de Oscar Niemeyer, 101, deixou recentemente o conselho da Fundação Oscar Niemeyer. Eles divergiram sobre o projeto da Praça da Soberania, abandonado em fevereiro por desrespeitar as regras de tombamento de Brasília. Magalhães dispara contra os colaboradores do ex-sogro. Ainda assim, continua representando o escritório de Niemeyer no DF.
FOLHA - O senhor rompeu com Oscar Niemeyer?
CARLOS MAGALHÃES - Deixei a fundação, mas não vou sair do escritório. Só se me tirarem de lá. A relação se deteriorou em função de algumas pessoas que estão em volta do Oscar hoje, como o [José Carlos] Sussekind, engenheiro calculista do escritório, e o Jair Valera, que toca os projetos. Eles não são da minha filosofia de trabalho.
FOLHA - Por que vocês brigaram?
MAGALHÃES - Fui contra a construção da Praça da Soberania. Falei contra o projeto e sei que o Oscar não gostou. Não é porque ele muda de ponto de vista que eu vou sair correndo atrás. Ele projetou um obelisco com cem metros de altura e uma galeria de ex-presidentes. Para que mais um museu aqui? Depois, propôs baixar o obelisco para 50 metros. Vieram me perguntar e eu disse que, da próxima vez, ele baixaria para 25. O governador José Roberto Arruda [do DF] e o secretário de Cultura só querem saber da mídia que o Oscar pode dar. Ele está no fim da vida e, pressionado por esse grupo do Rio e pelo governo, está sendo usado de forma ruim para a biografia dele.
FOLHA - Como essas pessoas influenciam o Niemeyer?
MAGALHÃES - Na nossa idade, você não é mais influenciado, você aceita tudo. O Oscar está enxergando mal. Tem a arquitetura na cabeça, mas o traço não tem a mesma destreza. É uma sacanagem esse pessoal fazer ele desenhar joia. O Oscar, com a história que tem, vai lá desenhar joia para a H.Stern? Estão desrespeitando a figura dele, para tirar a última gota da garapa.
FOLHA - Como fica seu relacionamento com a família?
MAGALHÃES - As pessoas acham que, por ter sido genro dele, tenho que concordar com tudo que ele fala. Era assim lá na corte do Luís 14, em que, na hora em que o rei tirava a mão da cabeça do súdito, você estava f... Não falo com o Oscar há três, quatro meses, mas não vou cortar o vínculo funcional. Ele precisa de mim para discutir e aprovar os projetos dele.
Jair Valera, do escritório de Niemeyer, diz não ter "nada a falar" sobre as declarações de Magalhães. Ana Lucia Niemeyer, neta do arquiteto e diretora da fundação, considera "contraditório" que Magalhães continue na empresa de arquitetura, apesar do desgaste com a equipe. "Ele foi contra um projeto do próprio Niemeyer. Não há animosidade da parte do Oscar, apesar de ele ter dito que meu avô está gagá". Segundo ela, a linha de joias da H.Stern não é "assinada" por Niemeyer, que "só autorizou o uso de seu traço".
Repórter: Mônica Bergamo
Fonte: Caderno Ilustrada, Folha de S. Paulo, 15/07/2009
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