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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Potencial turístico em questão

Falando ainda no estaleiro do Titanzinho, o professor Ireleno Benevides fez uma reflexão extremamente pertinente sobre uma provocação que deixei na coluna da semana passada, sobre a "coincidência" de haver sempre propostas de grandes empreendimentos em áreas potencialmente valorizadas, mas ocupadas por pessoas pobres.

Reproduzo a seguir trechos das observações dele: "Esse processo que ameaça e vem ocorrendo em Fortaleza é um caso concreto de uma tendência global, que geógrafos urbanos e urbanistas vem chamando a reinvenção das cidades para o mercado mundial. A cidade é crescentemente remodelada por estratégias de renovação centrada numa lógica de valorização cultural, da qual turismo, entretenimento, eventos e indústria cultural são os pilares básicos da criação de novos espaços sustentados por arrojadas inovações urbanísticas e arquitetônicas, da qual Barcelona é um caso exemplar".

Para ele, até nesse sentido, o projeto do estaleiro vai na contramão da tendência mundial, por não apresentar uma possibilidade de ampliar as potencialidades do turismo de Fortaleza. Ah, mas o Titanzinho já não é um ponto turístico e, para se tornar um, teria de ter hotéis e, aí sim, transferir a população dali, como afirmou há alguns dias ao O POVO o secretário Bismark Maia (Turismo), um dos porta-vozes do projeto do estaleiro no governo.

Dois exemplos que rebatem essa visão: algumas favelas do Rio de Janeiro e o bairro La Boca, em Buenos Aires. No Rio, a partir do reforço na segurança de alguns pontos e da parceria com a comunidade, constituiu-se um verdadeiro circuito turístico em certas favelas, de grande interesse para os estrangeiros, onde a própria presença da população local agrega valor ao ambiente com suas características culturais únicas; no La Boca, bem pertinho do porto, é difícil não se encantar com as humildes casinhas coloridas onde ainda habita parte da população pobre da capital argentina. E lá, com o Tango nas ruas e muitos cacarecos a venda, muita gente faz a vida, com El Caminito (a rua principal do bairro) lotado de turistas diariamente. Seria tão difícil assim integrar o Titanzinho ao circuito turístico da cidade?

Claro que, para isso acontecer, seria necessário enfrentar diversos problemas daquela região até agora ignorados, como a ausência quase completa do poder público, que não mantém ali sequer uma escola de ensino médio, a falta de opções de lazer (com exceção do surfe, que é praticado espontaneamente pela proximidade do mar, sem qualquer apoio externo), de emprego, de moradias adequadas, de segurança. Talvez seja bem mais fácil construir o estaleiro ali, no mar, sem ter que desapropriar ninguém. Mas será que é o melhor para o local?

Fonte: Coluna POLITICA/ O POVO por Kamila Fernandes

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