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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Carlos Leite: Conversas latino-americanas

Três questões de Carlos Leite para Ricardo Sargiotti, articulista da próxima edição

O espraiamento urbano (urban sprawl) nas grandes cidades latino-americanas ocorre sobre áreas de proteção ambiental. Como enfrentar o problema?

Isso não escapa do que esse hemisfério atravessa desde os tempos da migração do campo para as cidades. As áreas periféricas começaram como acampamentos onde qualquer terreno livre era fértil - uma área que hoje consideramos reserva natural: às margens de rios e canais, em topografias acidentadas ou em zona de mata virgem. Esses primeiros acampamentos foram fagocitados pela mancha urbana e passaram de cidade informal a formal. Essas histórias acabaram sendo assimiladas por nossa cultura, de forma que nossos questionamentos sobre isso não têm o crédito popular necessário e, assim, não estão nos planos municipais. Uma das respostas a esse problema seria, facilmente, uma política responsável do estado. No entanto, poderia começar com a conscientização da população para maior pressão sobre os governantes para que o tema passe a ser uma agenda real, não apenas retórica.

Como analisa a situação paradoxal de termos, na América Latina, grandes cidades com centros despovoados e periferias em expansão gerando um movimento contrário ao desejável, de cidades mais compactas?

O desejo de cidade compacta e eficiente não coincide com o desejo de muitos de seus habitantes, pelo menos daqueles que querem realizar seu sonho norte-americano de vida natural e casas individuais. Obviamente, o fenômeno é muito mais complexo do que apenas o desejo (ainda que eu acredite que seja uma das causas principais). A monofuncionalidade terciária ou turística dos centros históricos com seus horários desérticos e inseguros, a degradação de edifícios e a perda de serviços para moradores são algumas causas. Mas esse movimento é tão irracional que já começa a ser repensado timidamente. Alguns habitantes, cansados de largos trajetos, da perda de tempo, dos guetos e dos conflitos em comunidades fechadas, da falta de infraestrutura e, quero acreditar, da falta de urbanidade, devem produzir uma corrente inversa. Se essa tendência for facilitada com melhorias na infraestrutura do centro, com densificação da primeira periferia (aquela dos bairros-jardim dos anos 1940-50), com construção de obras públicas, parques e praças, em poucos anos poderíamos falar de cidades melhores e mais racionais.

Qual a responsabilidade dos arquitetos na explosão dos condomínios fechados, gerando anticidades, se o público comprador quer (com pertinência) segurança?

Devemos ser cúmplices de uma situação que sabemos ser negativa para a cidade? Colocada desse modo maniqueísta, a resposta nos leva a uma situação passiva ou de quase paralisia, deixando tais projetos em mãos de inescrupulosos. Mas há possibilidade de produzir arquitetura, de melhorar a qualidade de vida não apenas de quem tem o privilégio de "estar dentro", e de reconhecer tramas urbanas e atuar conscientemente com o meio ambiente nesses espaços. Dessa pergunta chegamos a outras. O desenvolvimento desses projetos está guiado por empreendedores imobiliários, e isso implica que a escolha dos terrenos, a densidade, o tipo de construção, os módulos habitacionais, os espaços livres, os preços, os custos, a publicidade de sua necessidade para a sociedade e as formas que inspiram os desehos são feitos por especialistas em investimentos e por publicitários. Qual o papel do arquiteto? Resignamo-nos à decoração? Nisso está nossa responsabilidade: devemos brigar por um papel ativo em todas e em cada etapa do projeto. Desse único modo seremos capazes de retribuir socialmente nossa formação.

Conversas latino-americanas/Charlas latinoamericanas

Fonte: Revista AU

http://www.revistaau.com.br/

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