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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Estádios da Copa têm projetos fora da realidade, diz especialista

Engenheiro de estruturas defende arrojo tecnológico, mas critica alto custo das arenas brasileiras

 O especialista em estruturas metálicas Flávio D'Alambert (crédito: Marcos de Sousa)


Marcos de Sousa - São Paulo 

Flávio D'Alambert é engenheiro civil formado pela Escola de Engenharia Mackenzie, em São Paulo, e especialista em projetos com estruturas metálicas.

Autor de projetos de referência, como as coberturas do estádio Engenhão e do Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro, D'Alambert trabalha agora nos projetos das coberturas dos estádios Castelão, em Fortaleza, e Arena Pantanal, em Cuiabá, além dos novos estádios de Boa Vista e Aracaju.

Nesta entrevista, ele fala sobre seu trabalho e critica alguns "excessos" em projetos para a Copa de 2014.

Como você avalia os projetos brasileiros de estádios, à luz das inovações vistas nos países que sediaram Copas e Olimpíadas a partir dos anos 2000?


A arquitetura de qualquer obra define-se numa relação entre forma e função. Nos últimos jogos olímpicos, a China mostrou ao mundo equipamentos maravilhosos, que tinham um único objetivo: chamar a atenção para o país e seus recente avanços. O Ninho de Pássaro, estádio de Pequim, conseguiu essa façanha, embora tenha se tornado um objeto ocioso após os jogos. Foi projetado pelo escritório suíço Herzog & De Meuron com participação de arquitetos e engenheiros chineses, que conseguiram absorver a tecnologia da Europa levada para lá, e incorporar esse conhecimento ao contexto do país. O mesmo não aconteceu na África do Sul, que construiu belíssimos estádios para a Copa de 2010, sem que a tecnologia fosse absorvida pelos profissionais locais.

"No Brasil, muitos projetos de estádios estão sendo feitos fora da realidade nacional. Em Manaus, por exemplo, a concepção adotada é maravilhosa, muito semelhante à do Ninho de Pássaro, mas inadequada para a cidade, para o país, porque os custos de construção e manutenção são altíssimos"

Pode-se argumentar que o estádio chinês tem 40 mil toneladas de aço naquela envoltória que compõe a estrutura e lhe dá forma. Mas em geral um estádio para 60 mil pessoas tem consumo de aço em torno de 3 a 4 mil toneladas; e o de Manaus vai gastar muito mais, algo como 8 ou 9 mil toneladas.

Mas não há bons exemplos de projetos brasileiros para a Copa de 2014?
Os projetos dos dois clubes privados, o do Internacional, em Porto Alegre, e da Arena da Baixada, do Atlético Paranaense, são bem equilibrados. Eles têm o arrojo de imagem necessário para a Copa, mas estão sendo feitos com sistemas e materiais disponíveis e dominados aqui no Brasil. Então, não vão gerar uma extrapolação dos custos. O projetos dos quais eu participo, o estádio Castelão e a Arena Pantanal, também foram pensados para as condições do país e de cada cidade-sede. Serão duráveis e sua manutenção será de baixo custo.

O senhor é contrário à participação de projetistas estrangeiros em obras brasileiras?
Sou favorável ao intercâmbio com os profissionais de outros países, desde que exista uma relação de respeito mútuo. Em geral, os projetos que vêm de fora não consideram as necessidades dos brasileiros. Os estrangeiros desenham as coisas mais suntuosas possíveis e nós importamos os projetos, materiais e técnicas sem o menor senso crítico. Isso vai gerar um enorme prejuízo a cidades como Manaus ou Natal, que não terão como pagar a conta dessas obras.


Mas o senhor não está trabalhando no projeto do Museu de Amanhã, no Rio de Janeiro, que foi projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava?
Esse projeto é um bom exemplo. A arquitetura foi concebida pelo Calatrava, mas todo o desenvolvimento do projeto está sendo feito no Brasil por arquitetos e engenheiros brasileiros. Nós estamos trabalhando em equipe, sugerindo mudanças, ajustes e adequações nos materiais propostos originalmente. Então, nós absorvemos a experiência deles e vice-versa. As duas equipes ganham muito e o Brasil incorpora técnicas que nos eram desconhecidas. Não podemos ser tratados como colônias.

FONTE:  Portal 2014

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