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quinta-feira, 1 de março de 2012

Os 80 anos do nosso maior Arquiteto

* Artigo do Presidente do IAB-BA, Nivaldo Andrade

Nivaldo Andrade – Vice-Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento da Bahia

No último dia 10 de janeiro, um dos maiores arquitetos brasileiros completou 80 anos de vida: João Filgueiras Lima, um carioca como Oscar Niemeyer, com quem, recém-formado, colaborou na construção de diversos edifícios em Brasília no final dos anos 1950. Lelé, como é mais conhecido, atua profissionalmente em Salvador desde os anos 1970, quando, a convite do então secretário de Planejamento do Estado, Mário Kertész, projetou as edificações mais marcantes do novo Centro Administrativo da Bahia: os blocos serpenteantes das sedes das secretarias estaduais, formados por caixas de concreto superpostas; os grandes pavilhões de concreto dos centros de exposições, conhecidos como “balanças”; e a Igreja da Ascensão, uma de suas obras-primas.

É a partir dos anos 1980, porém, quando Kertész se elege prefeito de Salvador, que Lelé produz uma série de objetos arquitetônicos engenhosos que não só resolvem problemas práticos do nosso dia a dia como marcam a paisagem da nossa cidade até hoje, a exemplo das passarelas que cortam as principais avenidas de Salvador. Infelizmente, poucos sabem que Lelé, um arquiteto sediado na Bahia, é a mente por trás destes projetos e também de dezenas de escolas, hospitais, residências e tribunais de justiça espalhados por todo o Brasil, de Macapá ao Rio de Janeiro.

Hoje, Lelé é reconhecido como um dos maiores arquitetos brasileiros pela sua preocupação pioneira com os processos de racionalização da arquitetura, através da utilização de elementos construtivos pré-fabricados, de modo a diminuir custos e agilizar a execução das obras. Por trás dessa preocupação com a racionalização da construção, está uma preocupação social: se conseguirmos produzir em larga escala, através da repetição de elementos, será possível reduzir custos e tempo de obra, o que é fundamental  em um país ainda tão carente de infra-estrutura.

Daí o reconhecimento internacional da preocupação social que caracteriza a obra de Lelé e que atinge seu apogeu com os projetos recentemente apresentados pelo arquiteto para o Programa Minha Casa, Minha Vida. Lelé elaborou duas propostas-piloto para o programa habitacional do Governo Federal: uma para Pernambués e outra para Cajazeiras. Contrapondo-se a boa parte da produção do programa, que peca pela baixa qualidade arquitetônica e pelos longos prazos de execução, Lelé demonstrou que seria possível produzir arquitetura de alto nível a preços competitivos, através da criação de mini-usinas com capacidade para produzir, em 45 dias, 40 apartamentos em aço e argamassa armada. Essas mini-fábricas seriam, em seguida, desmontadas e transportadas para novos locais.

Em uma época em que “sustentabilidade ambiental” se tornou uma das expressões da moda –muito repetida e, infelizmente, pouco praticada –, Lelé se destaca também por ter sido um pioneiro na adoção de princípios ambientalmente corretos na arquitetura. Os hospitais do aparelho locomotor da Rede Sarah, concebidos e pré-fabricados no centro de tecnologia da rede em Salvador e, depois, montados em diversas cidades, já adotam, há mais de vinte anos, um conjunto de soluções que permite ao hospital funcionar confortavelmente utilizando-se apenas da ventilação e da iluminação naturais. No Hospital Sarah de Salvador, na Avenida Tancredo Neves, através de soluções como grandes janelas envidraçadas, um sofisticado sistema de galerias de ventilação abaixo do piso e uma série de aberturas na cobertura – os sheds –, Lelé conseguiu criar um imenso edifício hospitalar no qual somente o centro cirúrgico e outras poucas salas, como a de raio X, dependem de iluminação artificial e de um sistema de ar condicionado.

O mais notável, contudo, é que, ao mesmo tempo em que se caracteriza pelo caráter social, pela inovação tecnológica e pela utilização racional dos recursos naturais, a arquitetura de Lelé possui qualidades estéticas inquestionáveis. É por essas e outras razões que devemos louvar os 80 anos de um dos maiores arquiteto brasileiros: o baiano – ainda que por adoção – João Filgueiras Lima, o nosso Lelé.

Fonte: IAB-BA

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