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segunda-feira, 20 de julho de 2015

O mundo é uma bola

Uma das facetas mais importantes e prazerosas de minha atribulada vida foi o meu passado como jogador de futebol profissional. Criado na vila da Base Aérea, uma ilha cercada de campos de várzea por todos os lados, natural que me inclinasse ao ludopédio. Juvenil do Calouros do Ar, atuei em vários jogos do time principal quando a onzena do Cocorote foi campeã cearense em meados dos anos de 1950, com jogadores do nível de Jesus, Beto e Zezinho.
 
Meia-esquerda de passadas elegantes, lançamentos precisos e chutes potentes de destra e sinistra (ah, o idioma italiano, tão sonoro...), além do cabeceio fatal, o Ceará ficou muito pequeno para mim. Com a ajuda de Pacoty, o grande artilheiro do Vasco, mudei-me para o Rio em 1958. Rumo: Flamengo.

O Mais Querido, à época, tinha Dida na minha posição. Apesar da força que o ponta Babá, cearense como eu, me deu, fui boicotado pelo cara, que era da seleção. Não podia ficar desperdiçando talento ali. Decidi arriscar a sorte. Ou bola ou búlica, como se dizia então. Com uma carta de recomendação do técnico Fleitas Solich e o apoio do empresário Paulo Machado de Carvalho, fui para o Barcelona. Foram três anos magníficos, quando fomos tri-campeões espanhóis e vencedores por duas vezes da Copa do Rei. Joguei com os húngaros Kocsis e Czibor e o brazuca Evaristo, grande figura. Só lamento os 5x1 que levamos do Santos, em 1958, em pleno Camp Nou. Lembro-me de ter dado um autógrafo a Pelé antes da partida. “Sou seu fã”, disse o Crioulo, rindo.

Mas aí começaram meus problemas. Tornei-me um incorrigível farrista e pegador de rabo-de-saia. A coisa toda começou com Sarita Montiel. Faltava aos treinos e às concentrações para encontrá-la. Quando ligavam, querendo saber se ia aparecer, respondia: “Quizás, quizás, quizás”. Fui vendido à Inter de Milão, onde fui pentacampeão da Bota (1962-1966), Bi da UEFA e Bi Mundial Interclubes, jogando com Mazzola, Facheti e Domenghini e sob as ordens de Helenio Herrera. Certa manhã, Claudia Cardinale surgiu no clube, esplendorosa. Queria me conhecer. Peguei minha Maserati e fomos para Florença. Uma semana inesquecível. Na volta, venderam-me ao Olympique de Marselha. Conquistei a França entre 1968 e 1972, além da Catherine Deneuve.

Começava a ficar velho para o esporte bretão. As farras se estendiam por dias a fio. As mulheres, por algumas semanas apenas. Tive ainda uma passagem gloriosa pelo Bayern de Munique, quando fui tetra da Champions League (1973 – 1976). Jacqueline Bisset, Romy Schneider, Ornella Mutti, Dominique Sanda, elas agora vinham da Europa toda. Falido, voltei ao Brasil para encerrar minha carreira como tetra-campeão no Ceará, ombreando com craques do naipe de Amilton Melo e Zé Eduardo. O corpo não agüentava mais, era melhor parar. Meu jogo de despedida foi contra o Fortaleza no Castelão, quando ganhamos de goleada. Engraçado, o brasileiro é um povo sem memória. Hoje não há quem saiba ou recorde o que fiz, a não ser uma única pessoa: meu psiquiatra.


Coluna do Arquiteto e Urbanista Romeu Duarte para o jornal O Povo em 20/07/2015.

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