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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Coluna Romeu Duarte: É Primavera, Fortaleza

A Roberto Cláudio de Carvalho

Passado o fim das águas, sempre marcado pelos ventos do aziago agosto (este último, então, nem se fala, de tão amarga memória), setembro nos chega com seus ipês floridos, suas gostosas frutas tropicais e um interesse renovado de discussão da cidade. Nas vias, nos quintais, nos jardins, as árvores fazem amor às escâncaras, enchendo o ar com nuvens de pólen, para desespero dos alérgicos, com seus vermelhos narizes em seu ofício de fungar. Nas esquinas, com sua variada, colorida e saborosa carga vinda dos ovários das flores, os vendedores mal dão conta da demanda dos famintos automóveis. Por todo canto, vicejam debates sobre o estado da Loura, seus problemas, potenciais e perspectivas, os olhos postos no Centro, lugar onde Fortaleza tem seu umbigo.

Esta talvez seja a época mais aguardada pelos fotógrafos, em sua ânsia de captar as belezas naturais do semi-árido em seus jogos de luz e sombra. Abre alas dos b-r-o-bro, o mês do segundo equinócio do ano já prenuncia a canícula do verão seguinte, este próximo, dizem as cassandras climáticas, o mais quente de todos os tórridos, pobres de nós. Mas, enquanto o sol ainda não nos alcança com sua abrasadora fúria, deliciemo-nos com os cajus, os jambos, as goiabas, as carambolas recortadas em ácidas estrelas. Mesmo descrentes ou fartos de tanto saber, ouçamos os que refletem sobre nossas questões urbanas, os que planejam o futuro desta nossa ampla, desarrumada e desigual morada. Seu coração, há muito doente, pede socorro e escusas pelos farrapos.

Se existe uma capital neste país que vem há tempos sendo dissecada é esta Terra de Alencar. Pelas minhas contas, estamos com frequência discutindo os rumos desta urbe mais ou menos desde que a Escola de Arquitetura da UFC abriu as portas, ou seja, há 50 anos. Partindo do momento em que suas autoridades diziam que Fortaleza não carecia de planos diretores, atravessamos o longo capítulo do planejamento técnico-burocrático, no qual mandava quem podia e quem tinha juízo obedecia, até chegarmos a este ponto, ainda lutando pela ampliação de nossas vezes e vozes. Durante esse acidentado percurso, o bairro central definhou, perdendo prestígio, vitalidade e seus símbolos de poder para os muitos pólos surgidos, não é mesmo, Aldeota?

Há décadas sabe-se o que se deve fazer para reanimar esse abandonado cuore, cada vez mais surrupiado do âmbito público e submetido às deletérias vontades de uns poucos metidos. Claro, há complicações novas, as quais requerem soluções inéditas, não desconectadas, contudo, do que é consabido e reclama desde sempre por respostas. No varejo e no atacado, tem faltado vontade política e coragem cidadã para enfrentar essa indigesta salada de pepinos. Seria tal remoçada disposição para debater nosso quo vadis um indício de que a campanha para prefeito municipal já começou? Um novo lote de promessas a não serem cumpridas nos espera? Pensamento que vai e vem, a moça branca quietinha no copo, a tangerina amiga, o pé de pau em flor.

Coluna do Arquiteto e Urbanista Romeu Duarte originalmente publicada no Jornal O Povo do dia 21/09/2015

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