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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Coluna Romeu Duarte: O bolo

Hélio Duarte foi o primeiro diretor da Escola de Arquitetura da UFC. Por razão das comemorações do cinquentenário desta, neste turbulento 2015, resolveu-se realizar um fórum em homenagem àquele notável arquiteto, espaço para se discutir desafios e oportunidades que se abrem ao nosso ofício. Nosso segmento costuma resolver problemas iniciando pela análise dos mesmos, indo às suas causas, daí o gosto pela investigação e o debate. As perguntas são os instrumentos por nós mais comumente usados para chegarmos ao cerne das questões. Esse talvez seja o motivo de as pessoas normais dizerem: “conversar com arquiteto é responder a um interrogatório”. Não é bem assim, mas é quase isso. Modus operandi é fogo, principalmente quando vira um vício.

Por exemplo: o destino de Fortaleza será sempre aprofundar e intensificar cada vez mais a informalidade de sua construção como cidade? Por que nossos planos diretores e leis de uso e ocupação do solo urbano não funcionam? Como vencer os gargalos da mobilidade? Como promover a melhor distribuição da população e de atividades no território cearense? O patrimônio arquitetônico e a paisagem natural serão sempre dilapidados? Qual seria o papel da nossa arquitetura no mundo globalizado? De que maneira o lugar e as relações culturais influem na concepção dos edifícios? Quais as possibilidades e os limites impostos pelas novas tecnologias construtivas e as novas ferramentas de representação e expressão? Como ética e estética dialogam na edificação?

E tem mais: em que medida tem havido compromisso dos professores para com a qualificação da constituição dos futuros profissionais de arquitetura e urbanismo? Quais os desdobramentos da distância ora existente entre o ensino e a prática profissional para a formação e qualificação dos estudantes? Estamos formando arquitetos e urbanistas aptos a exercerem plenamente as diversas atribuições que lhes competem? Como ampliar nossa participação no desenvolvimento do ambiente construído? Qual o alcance social, em seu amplo sentido, do nosso labor? Por que meios democratizar o acesso ao trabalho do arquiteto? Em que escala contribuímos para a qualidade das cidades e do planeta? Quando nossa labuta cotidiana constituirá uma profissão necessária?

Indagações e mais indagações. Em verdade, o fórum já começou. Foi inaugurado por aqueles dois senhores, sentados a uma mesa no palco do auditório da universidade, frente a uma plateia atenta e emocionada. Suas falas teceram um longo manto de lembranças que a todos cobriu, tal como a noite lá fora, com suas estrelas, velando o sono da Loura. Duas imensas e belas cabeças brancas, duas grandes lições de vida, operosidade e retidão. Um deles, referindo-se à nossa escola, distinguiu-a como um trabalho coletivo, obra realizada por muita gente ao longo de cinquenta anos. Semelhante ao bolo delicioso que a mãe serviu ao filho, dizendo ter sido a iguaria feita por mil pessoas, história boa que ele nos tão docemente contou, para sempre guardar.
 
Coluna do Arquiteto e Urbanista Romeu Duarte originalmente publicada no Jornal O Povo do dia 19/10/2015

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