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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Coluna Romeu Duarte: O Verbo da Hora

A Renato Abreu

Nos tempos que correm, o famoso dito shakespeariano “ser ou não ser, eis a questão”, colocado pelo bardo de Stratford-upon-Avon nas falas de Hamlet, o príncipe da Dinamarca, parece ter sido alterado: em todo canto, ouve-se: “cair ou não cair, eis a questão”. Não há jornal, roda de conversa ou papo de internet que não tenha como peça principal as acrobacias e peripécias que muita gente boa por aí anda fazendo para não despencar do privilegiado patamar que ocupa. Na Praça do Ferreira, onde a parada é federal, as apostas alcançam altas somas numa adivinhação dos diabos: quem se lascará primeiro: fulano, beltrano ou sicrano? E tome discussão, gritaria, pernada, mão na cara, vaia, que a turma lá não é de brincadeira. E a grana quietinha, na dela.

E você, amável e fiel leitor, o que acha? Quem papoca de saída, Dilma, Cunha ou Renan? Os três têm recorrido a seus santos, orações e orixás, pois a artilharia contrária é de grosso calibre. Pedaladas fiscais, contas milionárias na Suíça e trapalhadas deixando pegajosas pegadas de petróleo pesam em sua acusação. À sua volta, um carnaval frenético se organiza, num jogo de gata-parida promovido pelos chamados moralistas sem moral. No enredo, intrigas palacianas, patriotismo do pau-oco, intenções golpistas e muito do velho e sacana oportunismo brazuca, aquele mesmo que fez o Getúlio Vargas sair da vida para entrar na história. Por aqui, o único que até agora caiu comanda o cangaço da política local, um troca-troca meia-boca à la Tomasi di Lampedusa.

Mas não é só no cenário político que esse verbo cada vez mais pronunciado se verifica. No futebol, então, a coisa anda feia. Enquanto o glorioso Vasco da Gama ocupa a rabeira da tabela de classificação da Série A, nossos clubes cumprem um calvário pebolístico que tem feito faltar calmantes, remédios para cardíacos e mezinhas para o intestino nas prateleiras das farmácias da cidade. Passado mais um fracasso do Tricolor de Aço em sua desesperada tentativa de acesso à Série B, agora é o Ceará que, firme e forte como um pudim, tem imposto dores de cabeça, insônia e unhas roídas à sua sofrida torcida. Isso sem falar no desastre do Icasa, que se mudou de mala e cuia para a Série D, e na tragédia do Guarany, time fora de série. Eita, a bola rola e cabeças também.

Quem durará até amanhã? Até a próxima semana? Até o mês que vem? Enquanto isso, o suspense paralisa corações e mentes. Reputações ilibadas transformam-se, do dia para noite, em currículos imundos no frenesi deste cabaré rise and fall que é a bolsa de valores da opinião pública, sempre manipulada por interesses inconfessáveis. Súbito, minhas reflexões sobre este candente momento da vida brasileira foram bruscamente interrompidas pela desastrada queda de um bêbado na calçada esburacada defronte ao Bar do Nonato, na bela Gentilândia. “Caí, tudo bem”, disse o pinguço com sua voz pastosa, “mas estou melhor do que o Cunha”, frescou. A cena acendeu em mim uma certeza: pois é, só quem não vai cair de forma alguma é o Fortaleza...

Coluna do Arquiteto e Urbanista  Romeu Duarte publicada originalmente no jornal O POVO do dia 26/10/2015

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