O economista Paulo César Batista, que dirigiu o extinto instituto, assevera que não existem diretrizes claras e as incertezas regem cada órgão da Prefeitura. "É preciso ouvir todos os segmentos, sem exceção. O diálogo com as comunidades é importante, mas somente isso não resolve", afirma Batista.
Na avaliação da arquiteta e urbanista Ticiana Sanford, é fato incontestável que Fortaleza cresce desordenadamente. Segundo ela, a falta de planejamento urbano é refletida tanto nas periferias inchadas e desordenadas, onde muitas vezes falta infraestrutura básica, como nas áreas mais nobres, onde a especulação imobiliária atua de forma inconsequente, com empreendimentos que negam o espaço público. Ticiane cobra a implementação do Plano Diretor, lançado em março de 2009. "Ainda falta regulamentar uma série de dispositivos para que ele, de fato, saia do papel".
O auxiliar de Contabilidade José Américo Ribamar trabalha no Centro e mora em Messejana. Faz os percursos na sua moto e confessa que não entende a razão de tantos problemas na Cidade. "É o trânsito, os buracos que parecem não ter fim, a insegurança, a falta de áreas de lazer para os jovens, e tome invasões nas praças e na periferia".
A professora de Sociologia e consultora em Planejamento Urbano Matilde Maria de Almeida responde que as mazelas de Fortaleza não são tão diferentes das de outras capitais. De acordo com Matilde, algumas cidades brasileiras foram construídas a partir de um planejamento de crescimento ordenado dentro das necessidades da população, como Belo Horizonte, Brasília, Goiânia e Florianópolis. Mesmo assim, houve o crescimento da periferia que os planos não acompanharam.
"Nem mesmo Brasília, com todo o rigor que foi planejada, não previu a expansão que a cidade teve na sua própria planta e nos segmentos sociais. Ela se manteve em seu plano original, mas cresceu para todos os lados de forma desordenada", acrescenta Matilde. O historiador e Professor do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC) Antonio Luiz Macêdo e Silva Filho explica que o fenômeno de explosão demográfica não é uma peculiaridade de Fortaleza.
A maioria das megalópoles contemporâneas, considera o especialista, após a Segunda Guerra, experimentaram, em contextos específicos, um processo de industrialização correlato ao intenso surto migratório que, partindo de áreas rurais e pequenos núcleos urbanos, demandou as grandes cidades.
Conforme o administrador Renato Boareto, diretor de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, o modelo atual de transporte urbano se mostra insustentável. "Existe uma relação direta entre a renda e a mobilidade: quanto maior a renda, maior a possibilidade de locomoção nas cidades", avalia. Segundo ele, a expansão populacional, a velocidade da produção de novos veículos automotivos e a renda populacional não são compatíveis, transformando as cidades em permanentes espaços de disputa.O planejamento é fundamental para superar os desafios enfrentados pelas cidades que constituem aglomerações urbanas. É uma forma estruturada de tomar decisões.
Fonte: Caderno Negócios/ Diário do Nordeste.
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