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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

"O corpo humano foi desenhado para se movimentar, mas em boa parte de nossas calçadas não é possível andar", diz Benedito Abbud



Em 2006, o arquiteto paisagista Benedito Abbud começou a defender um novo conceito para os passeios públicos das grandes cidades, que chamou de calçadas vivas. A ideia era minimizar o impacto dos longos perímetros de muros, quase sempre criados por grandes condomínios em nome da segurança, mas que acabam gerando zonas mortas nas cidades.

Para fazer as calçadas vivas, Abbud propõe uso de plantas, mobiliário com criação de pequenas praças, além de rampas de acesso e pisos táteis para facilitar a vida de pessoas com deficiência e idosos. Conversamos com o paisagista sobre a atual situação das calçadas paulistas e o que pode ser feito para melhorar nossos passeios.

Confira na galeria os passeios públicos de um bairro paulistano projetados por Abbud.


IAB: Para o senhor, qual o maior problema das calçadas paulistas? No Rio, muita gente reclama das pedras portuguesas, que embora sejam muito bonitas, costumam causar inúmeros acidentes.

O mosaico português sempre foi usado como um ótimo material até inventarem as máquinas de jato d água de alta pressão para lavagem de piso. Elas tiram o rejunte de areia das pedras, soltando-as. Burle Marx usou magistralmente o mosaico português, pois ele permite todas as composições de desenhos. Em são Paulo, o maior problema das calçadas é que são estreitas. Uma calçada deve ter: faixa de serviços para colocação de cestas de lixo, telefones públicos, árvores e outros equipamentos; faixa de circulação que facilite o fluxo confortável das pessoas, incluindo cadeirantes e pessoas com necessidades especiais; e a faixa de acesso às edificações junto a divisa dos lotes que, muitas vezes, é ajardinada. Para isso deveria ter uma largura bem maior que os 2,5 metros padrão, como a avenida Rebouças entre a Faria Lima e a Marginal (primeira foto da galeria abaixo) que é considerada uma das mais agradáveis e bonitas de São Paulo.

IAB: O senhor criou o conceito de calçada viva em 2006, mas ele continua sendo pouco aplicado em grandes cidades. O que falta para termos calçadas melhores?

O conceito de calçada viva envolve itens como: calçada com arborização na faixa de serviço, espaço sociável com bancos e lounges; equipamentos de ginástica e pista de caminhada/corrida; pisos permeáveis; mobiliário para estacionamento de bicicletas; pontos de ônibus com design; fiações embutidas e alçapões com design para visitação de tubulações de telefonia, água e gás. Porém, nem todos esses itens precisam ser implantados concomitantemente. Acredito que tenha havido um avanço desde 2006. A prefeitura de São Paulo já regulamentou a construção de parklets - pracinhas feitas no lugar de duas vagas que podem ter áreas de estar, equipamentos de ginástica, mobiliários diversos, e outros itens citados acima.

IAB: Grandes cidades como Rio e São Paulo começaram a investir em ciclovias como uma alternativa à falta de mobilidade. Não deveriam fazer o mesmo com as calçadas? Andar a pé não é também (ou ao menos deveria ser) uma alternativa?

O corpo humano foi desenhado para se movimentar, e andar a pé é um dos mais importantes exercícios. Acontece que em boa parte de nossas calçadas não é possível andar. Sua construção é de responsabilidade do morador e, na maioria das cidades, ele pode escolher o material que achar melhor. Assim temos pisos escorregadios ou desnivelados, calçadas com degraus, rampas onde o cadeirante não passa, sem contar a enorme quantidade de postes, buracos, escavações feitas por concessionárias que são muito mal remendadas.

IAB: A população não deveria contribuir para calçadas melhores também? É comum ver carros estacionados ocupando a calçada toda e obrigando carrinhos de bebê, por exemplo, a passar pela rua...

A cidade é o lugar essencialmente de convivência social que exige educação para funcionar em todos os seus aspectos. A calçada é um desses aspectos. Algumas cidades no sul do país promovem concursos de calçadas para premiar as mais cuidadas e bonitas.

IAB: E a questão do custo dessas calçadas? Elas não seriam muito mais caras?

O custo é relativo. Ninguém acha ruim que a via (leito carroçável) seja pavimentada por uma empresa que cuida profissionalmente dos caimentos, desníveis, guia, sarjeta e tenha seu custo rateado pelos moradores. Não seria bom cada morador fazer um pedacinho, pois seria muito ruim para os carros não é? E, por que nas calçadas isso é normal que aconteça? As pessoas não mereceriam o mesmo tratamento que os veículos?

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