Endereço: Av. Carapinima, 2425 - Benfica |Cep: 60015-290 - Fortaleza - CE |Tel: (85) 3283.5454 / 88973480
Email: iabce@iabce.org.br| Site oficial do IAB-CE | Página Facebook | Perfil Facebook | Twitter

segunda-feira, 16 de março de 2015

O negócio do Acquário


Pedro Fiori Arantes, doutor em arquitetura e urbanismo, professor da Unifesp, publicou, em 2012 um excelente livro intitulado Arquitetura na era digital-financeira, resultado de sua tese de doutorado. Nesse livro, ele esquadrinha a nova arquitetura possibilitada pelo desenho digital e a transformação da construção urbana em fonte de renda para o capital.


O primeiro capítulo da obra trata do chamado Milagre de Bilbao (Espanha), cidade que recebeu uma das sedes do famoso Museu Guggenheim. O tal milagre foi a fenomenal recuperação da cidade, que vivia uma decadência econômica e se tornou polo de turismo internacional.

Obra do arquiteto canadense Frank Gehry, o Museu Guggenheim de Bilbao é, de fato, espetacular. Sua fachada, construída com ligas de titânio, envolvem todo o prédio em um brilho ofuscante que modula sua tonalidade com as horas do dia e com a oxidação das chapas levemente abauladas. O museu, de fato, extasia já no primeiro olhar. Não por acaso a principal obra do Museu é o seu prédio, que ofusca todo o resto.

Mas não é isso que quero falar. Arantes aponta para efeito Bilbao e se remete às inúmeras cidades que buscam o mesmo resultado. Um aspecto disso é esquecido: junto com Otília Arantes, Ermínia Maricato, Raquel Rolnik, entre outros grandes intelectuais que vêm pensado o desenvolvimento urbano brasileiro, Pedro Arantes analisa a lógica da construção dos chamarizes arquitetônicos no contexto de uma cidade que se desenvolvem para o negócio e não para a habitação.

Esse caso não nos é estranho. Vivemos a polêmica do Acquário do Ceará, que também é uma busca do efeito Bilbao. Para suplantar esse mito do milagre gerado pelos megaprojetos, Arantes aponta, na parte final do seu livro, para uma tendência de prejuízo nos investimentos nesses monumentos de entretenimento. Contudo, mesmo que o argumento da demanda reprimida no Brasil para tais projetos seja válido e o Acquário venha a ser um excelente negócio, retomo o argumento anterior: que cidade queremos? Aquela que se constrói para rentabilidade dos negócios de turismo, em oposição ao seu povo, ou uma cidade em que se pode viver feliz e bem?

Nenhum comentário:

Postar um comentário