Pedro Fiori Arantes, doutor em arquitetura e urbanismo, professor da
Unifesp, publicou, em 2012 um excelente livro intitulado Arquitetura na
era digital-financeira, resultado de sua tese de doutorado. Nesse
livro, ele esquadrinha a nova arquitetura possibilitada pelo desenho
digital e a transformação da construção urbana em fonte de renda para o
capital.
O primeiro capítulo da obra trata do chamado
Milagre de Bilbao (Espanha), cidade que recebeu uma das sedes do famoso
Museu Guggenheim. O tal milagre foi a fenomenal recuperação da cidade,
que vivia uma decadência econômica e se tornou polo de turismo
internacional.
Obra do arquiteto canadense Frank Gehry, o
Museu Guggenheim de Bilbao é, de fato, espetacular. Sua fachada,
construída com ligas de titânio, envolvem todo o prédio em um brilho
ofuscante que modula sua tonalidade com as horas do dia e com a oxidação
das chapas levemente abauladas. O museu, de fato, extasia já no
primeiro olhar. Não por acaso a principal obra do Museu é o seu prédio,
que ofusca todo o resto.
Mas não é isso que quero falar.
Arantes aponta para efeito Bilbao e se remete às inúmeras cidades que
buscam o mesmo resultado. Um aspecto disso é esquecido: junto com Otília
Arantes, Ermínia Maricato, Raquel Rolnik, entre outros grandes
intelectuais que vêm pensado o desenvolvimento urbano brasileiro, Pedro
Arantes analisa a lógica da construção dos chamarizes arquitetônicos no
contexto de uma cidade que se desenvolvem para o negócio e não para a
habitação.
Esse caso não nos é estranho. Vivemos a polêmica do
Acquário do Ceará, que também é uma busca do efeito Bilbao. Para
suplantar esse mito do milagre gerado pelos megaprojetos, Arantes
aponta, na parte final do seu livro, para uma tendência de prejuízo nos
investimentos nesses monumentos de entretenimento. Contudo, mesmo que o
argumento da demanda reprimida no Brasil para tais projetos seja válido e
o Acquário venha a ser um excelente negócio, retomo o argumento
anterior: que cidade queremos? Aquela que se constrói para rentabilidade
dos negócios de turismo, em oposição ao seu povo, ou uma cidade em que
se pode viver feliz e bem?
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