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terça-feira, 31 de março de 2015

Preferência nacional?

Romeu Duarte 31/03/2015
Quem acompanha o noticiário, notadamente o político, nunca viu tantos zeros e casas decimais na vida como nos últimos tempos. Diariamente, assolam-nos manchetes garrafais com casos cabeludos de roubalheira grossa, cujas cifras ganham a estratosfera. Órgãos estatais constituem a comissão de frente de uma tenebrosa escola de samba, que marcha ao ritmo sincopado da falcatrua. Na bateria (e como batem...), valorosos representantes do empresariado brazuca, até bem um dia desses tidos, por eles mesmos, como o supra-sumo da eficácia e da decência, repicam em seus áureos tamborins esquemas feitos em parceria com a galera anteriormente citada. Na arquibancada, a plateia enojada, briga para escalar quem são mesmo o mestre-sala e
a porta-bandeira.

Nessa áspera discussão, cada vez mais enfadonha por apaixonada e vazia, opera-se, de um lado, como se a prevaricação fosse um patrimônio do povo brasileiro, marca onipresente e indelével de nossa cultura de privatização da coisa pública, portanto plenamente desculpável pelo fato de estar entranhada na massa do nosso sangue. Para o outro bando, a mão de gato que encobre com sua maligna sombra todo o território pátrio deu o ar de sua graça precisamente quando aquele maldito sapo barbudo de nove dedos assentou-se no trono. E assim se desenvolve esse farisaísmo bilateral, triste ciranda alimentada a ódio que embala as redes sociais. O próximo capítulo da novela, sempre mais sórdido que o antecedente, é por todos ansiosamente aguardado.
 
"Os partidos, outrora legítimos representantes da nação deste Brasil de Mãe Preta e Pai João, multiplicaram-se feito coelhos e ficaram do tamanho de suas reais convicções políticas"
 
Os partidos, outrora legítimos representantes da nação deste Brasil de Mãe Preta e Pai João, multiplicaram-se feito coelhos e ficaram do tamanho de suas reais convicções políticas, chafurdando no charco da traficância e do fisiologismo, âncoras de uma governabilidade submetida à chantagem cotidiana da coalizão. E tome discursos salafrários, heroísmos fingidos, santinhos do pau oco, cortesias com o chapéu alheio. O que importa, the very real thing, é a manutenção do poder, seja de que jeito for, duela a quien duela. Em favor do mando total e absoluto ou de sua possibilidade, tudo é válido, da cintura para baixo é canela. Bem assim defender a volta da ditadura militar quanto o seu negativo, o stalinismozinho de açúcar. Que mau momento o atual.

Fica-se a imaginar o que vai na cabeça deste cidadão ao meu lado, como eu chacoalhando no coletivo a caminho de casa, o corpo doído do batente duro, o parco dinheiro amassado no bolso de trás da calça rota, o olho fixo na delação premiada do bacana que estampa a tela do celular. “Lai vai, como foi que esse fidumaégua fez para roubar tanto dinheiro? Cem milhões de dólares de propina é bufunfa que nem presta. E o cabra ainda devolve, tentando se safar do rabo de foguete. Isso desmanchado em tijolo e telha dá para resolver o problema de moradia da negrada do Poço da Draga, ora se não”. A perspectiva da mutreta se acabar em pizza revolta o distinto: “Daqui a pouco estarão todos aí de novo, risonhos, pedindo o voto da gente. Aqui, ó”, mostrando, firme, o maior de todos.

"Há muita gente querendo ver o mar pegar fogo para comer peixe assado. Muito terrorismo vendido aos berros na Praça do Ferreira como vera indignação"

 
Enquanto o governo, calado, se encontra nas cordas de um ringue em que há três meses só faz apanhar, a oposição veste peles de cordeiro manchadas com um vermelho sangüíneo. A Câmara e o Senado têm seus presidentes registrados como fichas-sujas numa lista que nem o melhor lava-jato do mundo poderá limpar. Por sua vez, o Judiciário, a instituição que tem como tarefa a promoção da Justiça na sociedade, patina em soberba e desequilíbrio. Há muita gente querendo ver o mar pegar fogo para comer peixe assado. Muito terrorismo vendido aos berros na Praça do Ferreira como vera indignação. Seria a corrupção, em vez da bunda e de certa marca de cigarro, a verdadeira preferência nacional? Basta, melhor parar por aqui, que coisa chata é ler jornal.

Fonte:opovo

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