Por onde seus olhos caminham quando você está de passagem pelo Centro? Quem está ao volante, que siga atento ao trânsito. Mas passageiro e pedestre podem perceber, entre comércios e residências, fachadas nem sempre bem cuidadas ou escondidas por placas de propaganda. E aí pode estar o perigo. Na última terça-feira, 23, o prefeito Roberto Cláudio (Pros) assinou decreto que regulamenta a lei nº 9.913/2012, que trata da inspeção predial, e afirmou que, na fiscalização da norma devem ser priorizados “os prédios e edificações mais antigos da Cidade e já com algum risco de desabamento identificado”.
Durante uma volta com a equipe do O POVO pelo Centro, o engenheiro civil Lawton Parente apontou sinais que as construções dão e com os quais os donos devem ficar atentos. Em maio, um prédio de dois andares desabou na avenida Tristão Gonçalves. Vizinhos descreveram que o local estava sem uso havia quatro anos e que já teriam comunicado ao proprietário as falhas visíveis na estrutura.
“A engenharia está entrando em uma nova fase, que é de cuidar das edificações antigas. Fazer a manutenção preventiva é, também, preservar a história da Cidade”, destaca o profissional, especialista em Patologia das Edificações e Engenharia Diagnóstica, que enfatiza a importância da nova lei para a Capital.
Os casos mais comuns observados no Centro envolviam fissuramentos, corrosão de armaduras, infiltrações e queda de revestimento. Lawton frisa que, quando é um comércio, as estruturas de metal fazem a propaganda e camuflam o que está por trás. Além disso, diz, muitas unidades estão abandonadas. “As construções que a gente vê no Centro são de décadas passadas e foram muito mexidas, alteradas”. Para exemplificar, o especialista indica uma casa em cujo térreo funciona uma loja: “embaixo está bem cuidada. Mas, olhando pra cima, a gente está na década de 1930. Aquela coluna está toda fissurada. O próximo passo pode ser cair”, aponta.
O engenheiro ressalta que qualquer fissuramento merece atenção dos proprietários. “Se apareceu, não é pra tentar passar nada. Deve-se chamar um profissional. Ali é a estrutura se comunicando para expor algo, dizendo: ‘estou falhando, tem alguma coisa acontecendo’. Pode ser algo simples ou grave”. O problema, ele afirma, é que não dá para prever quando vai ruir. “E o papel de fiscalizar não cabe só ao síndico - moradores e funcionários também devem ficar atentos”, reforça.
Saiba mais
Síndicos e proprietários têm 180 dias para solicitar a um profissional habilitado, arquiteto ou engenheiro, um laudo de vistoria técnica. Esse documento deve ser apresentado à Secretaria do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), que vai emitir Certificado de Inspeção Predial (CIP). Em seis meses, 70 fiscais vão verificar se o CIP está afixado em local visível.
Quem é obrigado a realizar a vistoria: edificações residenciais multifamiliares (prédios de apartamentos), com três ou mais pavimentos; edificações de uso comercial, industrial, institucional, educacional, recreativo, religioso e de uso misto; edificações de uso coletivo, públicas ou privadas; e edificações de qualquer uso, desde que representem perigo à coletividade.
Periodicidade das vistorias técnicas:
- Anualmente: edificações com mais de 50 anos;- A cada 2 anos: edificações entre 31 e 50 anos;
- A cada 3 anos: edificações entre 21 e 30 anos e, independentemente da idade, para edificações comerciais, industriais, privadas não residenciais, clubes de entretenimento e para edificações públicas;
- A cada 5 anos: edificações com até 20 anos.
Exemplos de situações de risco
- Fachada de prédio na rua Dom Pedro I tem riscos escondidos atrás da placa de publicidade: instalação elétrica junto com metal e plástico (risco de choque e incêndio), ferrugem e revestimento sem reboco
- Marquises são comuns no Centro e é possível observar fissuras e sobrecarga de condicionadores de ar em algumas. “É concreto em balanço, sem apoio embaixo e judiado por falta de impermeabilização”, indica o engenheiro
- Vegetação, lodo, mofo, eflorescência (manchas de cor branca) remetem à água. “Água está ligada à corrosão de armadura, aumento de peso, traz oxidação. Se não tiver impermeabilização, tende ao colapso”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário