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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Coluna Romeu Duarte: Fortaleza e seus desafios



A Luciano Guimarães
Por mais simpática, hospitaleira e legal que possa aparentar, Fortaleza é uma cidade profundamente desigual, irregular e ilegal. Todo santo dia, centenas de construções dos mais variados tipos são erguidas sem que a Prefeitura tome conhecimento de sua existência. Imagine, caro leitor, estar voando neste momento, de costas para o mar e de frente para o sertão. A paisagem construída que lhe enche as vistas é praticamente levantada ao arrepio da lei. Tenho alguns colegas que se comprazem com esse estado de coisas, talvez por entenderem que a produção do espaço compete a quem o irá ocupar. Sendo assim, que se fechem as portas das escolas de arquitetura! Participação popular, em nossa área, tudo bem, desde que sem dano para quem é do ramo.

Mesmo atulhando o inferno desde tempos imemoriais, há boas intenções no horizonte desta urbe informal. A última compete à nossa atual administração municipal, em seu afã de regularização das muitas obras anormais que medram em nossos bairros a cada nascer do sol. Entretanto, face ao que se tem apresentado em seminários e fóruns, a iniciativa tem muito mais a cara de mecanismo de arrecadação do que de instrumento de ordenamento urbanístico. Tornar a cidade real em cidade legal envolve outras ações além do pagamento de taxas e alvarás, começando pelo estrito cumprimento do plano diretor e da lei de uso e ocupação do solo. O mercado deseja celeridade nas aprovações; os movimentos sociais, justeza e democracia. Seria querer muito?

Nesse longo capítulo dos bons propósitos, deve-se destacar a ênfase que o Governo do Estado tem dado ao tal hub da TAM, que, de tão famoso e ansiado, já está servindo até para batizar menino. No idioma da velha Albion, o monossílabo diz respeito a um elemento que concentra ações de forma densa. No dizer aeronáutico, os hubs são aeroportos que atuam como principais centros de operações de voos comerciais e cargueiros. Imposto por capricho no meio do território da Loura, nosso Pinto Martins, uma vez convertido nesse cuore aéreo, causará imensas e caras alterações no desenho e nas atividades de nossa capital, bem como um mega-tráfego de aviões sobre nossas teimosas, pretensiosas e sebastianistas cabeças-chatas. E aí, Hélio Rola, rola?

"Tornar a cidade real em cidade legal envolve outras ações além do pagamento de taxas e alvarás"

Estamos há décadas fingindo não ver nosso maior problema: o Ceará macrocéfalo. Cevada na tardia autonomia concedida à Terra de Alencar por Pernambuco relativa aos fazeres urbanos, essa anomalia evidencia-se em uma metrópole povoada por 2 milhões e 700 mil pessoas e desacompanhada de cidades médias de economia pujante. Isso somado à aversão ao planejamento e à falta de expressivos projetos de desenvolvimento regional explica o êxodo, a miséria, a violência e o crime, fazendo com que a habitação social figure como panaceia para todos os males. A solução está nas entrelinhas. Perdoem-me o aborrecido tema nesta penúltima segunda-feira deste atribulado agosto. Gostaria de estar falando de canções e arrebóis. Vida de arquiteto é osso duro.

Coluna do Arquiteto e Urbanista Romeu Duarte para o jornal O Povo em 24/08/2015

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