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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Coluna Romeu Duarte: Pouco a pouco

Engana-se quem pensa que irei abordar aqui a letra da famosa canção romântica do cantor potiguar Gilliard. Não, amigos, o buraco (negro) é bem mais embaixo: de acordo com uma equipe de renomados cientistas de vários países, o Universo está morrendo, desmilinguindo-se, definhando a cada instante. Na ponta do lápis, os números são preocupantes: a energia cósmica atualmente produzida por 200 mil galáxias é duas vezes menor que há dois bilhões de anos. Não me perguntem como fizeram tal conta, pois faltei a essa aula no Colégio Cearense. Condenado ao inescapável declínio, este nosso desmedido lar, segundo um dos estudiosos, “estirou-se no sofá, cobriu-se com uma manta e se prepara para um sono eterno”, feito cachorro velho sem futuro.

Para falar a verdade, cá com meus surrados botões, já há algum tempo venho pressentindo os sinais de exaustão do Old Big Bang. Não, não é somente porque o seu ritmo de criação de estrelas encontra-se em queda, apesar de todo dia a Globo lançar em sua tela quente uma carinha nova. Falo de casos e coisas palpáveis, tangíveis, que doem na carne. O que seria essa tão propalada crise, com seus Cunhas, Renans, Aécios e Bolsonaros, senão um presságio do amargo fim? O abate do leão Cecil, em plena savana africana por um desmiolado dentista ianque, não seria outra evidência do final das eras? Quando o Bar do Chaguinha cerrou as portas, vi um astro se apagar no céu. A turma alegre dançando a zumba nazi na Bezerra de Menezes fechou a gestalt.

Para mim, contudo, a maior prova do desencanto do Universo consigo mesmo, para além desse povo que come lagosta e bate panela nas varandas dos condomínios do Meireles e daqueles que vão ao aeroporto receber com palmas deputado misógino e fascista, é o lastimável estado em que se acha o meu tão querido e sofrido Ceará Sporting Club. Depois daquela fatídica derrota no último segundo para o seu maior adversário (custa-me dizer o nome deste time) e a consequente perda do campeonato, nada mais deu certo em Porangabuçu. Os mapas astrais desandaram e a depressão se instalou na Ilha das Cobras. É derrota por cima de derrota, vexame após vexame e a chatice de ouvir piadas do tipo “compre pilha para sua lanterna não falhar lá no canal”.

Atravessamos tempos sombrios, é certo. Todavia, como dizia Hannah Arendt, não só não são novos, como não constituem uma raridade na História. Se a força que anima o espaço sideral está pela bola sete, é hora de refletirmos sobre o que e quem vale realmente a pena. Se nós, homens ocos, como queria T. S. Eliot, vamos assistir ao Universo expirar com um suspiro e não com uma explosão, devemos dar valor a quem fala com passarinho, divide o que tem com quem não tem e acende a vela no breu, como sabiamente canta mestre Paulinho da Viola. Donos de olhos tão afeitos às sombras, conseguiremos enxergar o brilho especial dessa singela luz? Lá fora, após regar as plantas do jardim, uma mulher varre a calçada e sorri. Precisamos de gente assim no éter.


Coluna do Arquiteto e Urbanista Romeu Duarte para o jornal O Povo em 17/08/2015

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